Mas, afinal, o que é webdocumentário?

Boa pergunta. Como fenômeno recente, ainda carece de literatura e de reflexão teórica a respeito. Também não tem fórmulas prontas e consolidadas – e, diga-se de passagem, isso é muito bom.

De uma forma bastante simplificada, pode-se arriscar dizer que um webdocumentário é um “sistema” multimídia, normalmente acessado pela Internet, que reúne informações em diferentes formatos – textos, áudios, vídeos, fotos, ilustrações e animações – a respeito de um tema específico, permitindo ao espectador o controle na navegação, a interação e a participação.

Em primeiro lugar, o termo webdocumentário costuma ser associado a um “sistema” único, ou seja, um produto cultural pensado de maneira específica e não em linha de produção. É isso que diferencia, por exemplo, um webdocumentário de uma reportagem multimídia em um site noticioso, assim como um documentário de cinema é diferente da cobertura de TV de um mesmo acontecimento. Normalmente, o webdocumentário tem projeto visual exclusivo. Usa uma interface própria como parte da criação de sua identidade. Também costuma ter uma ideia narrativa e um roteiro concebidos especificamente para cada tema.

Em segundo lugar, um webdocumentário é algo multimídia por excelência. O uso da fotografia estática, muitas vezes associado a narração em off, é um elemento importante em diversos projetos recentes. Também nota-se uma grande ênfase nos efeitos sonoros – outra diferença em relação às webrreportagens tradicionais. E, obviamente, há também um uso intenso de vídeos e áudios. O texto escrito, mais do que um coadjuvante em legendas e elementos de navegação, assume parte importante da narrativa, o que afasta qualquer paralelo com produtos exclusivamente baseados em vídeo.

Em terceiro lugar, o webdocumentário costuma ter um tema fechado e específico. Não é, portanto, um “portal multimídia” para diferentes assuntos. Mesmo quando um webdocumentário é composto por episódios – unidades de conteúdo que vão sendo agregadas à interface inicial –, ele costuma se dedicar a um só tema.

E por último – e mais importante – o webdocumentário tem como característica essencial o rompimento da linearidade típica da narrativa do cinema e da televisão. Por meio das escolhas que faz ao navegar, o internauta deixa de ser apenas um espectador e passa a definir seu percurso pela obra, escolhendo o que ver, quando ver e em que ordem ver. Ele pode interagir e, mais do que isso, pode ser coautor, não apenas agregando comentários, mas participando da própria produção de conteúdo.

Em resumo, o webdocumentário está para a narrativa não ficcional assim como a web 2.0 está para os portais tradicionais. Trata-se de uma nova forma de contar histórias, um novo jeito de interagir, um novo espaço para pensar a produção de informação on-line.